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Segunda - 25 de Setembro de 2023 às 12:11

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Há muito que se comemorar no dia 25 de setembro e durante todo o ano pela evolução e crescimento do rádio. O veículo continua com alta penetração na sociedade e se mostra vivo, apesar de suas inúmeras notas de falecimento fakes. Para alguém que vive em função desse veículo desde criança, surfando nas ondas sonoras e falando na latinha, creio que o rádio é o meio de comunicação em massa que mais se adaptou às novas mídias. Olha lá o rádio produzindo memes e conteúdo para o Instagram, notícias e publicações para o Facebook, vídeos, podcasts e tantos materiais para o YouTube.Essa possibilidade de se reinventar, talvez, ou melhor, com certeza, faz com que permaneça tão íntimo de quem o trata como membro da família e o faz companhia diária. Embora o rádio de mesa não tenha virado um mero suvenir, a possibilidade de entregar e ouvir o que se transmite em inúmeras plataformas, faz com que o rádio avance e se molde. Afinal, quantas emissoras com câmeras em seu estúdio, obstante daquela imagem fixa em uma só cena, que agora se tornou em cortes e destaques para quem fala, para o clipe da música que está no ar. Enfim, a convergência chegou e o rádio tomou posse daquilo que anunciadamente viria como afiada punhalada certeira.

Em 2016, na administração Dilma Rousseff, o Brasil iniciava a tomada de um novo rumo nas comunicações, quando o decreto presidencial nº 8.139, autorizava a migração do AM (Amplitude Modulada) para o FM (Frequência Modulada). A partir deste fato, comunicadores se dividiram em suas opiniões, embora, em sua maioria, classificaram como louvável a opção do Ministério das Comunicações daquele governo. Destacam-se aqui, nessa linha de pensamento, os donos das AM’s, que naquela altura sofriam com os altos custos de manutenção da operação do sistema em ondas médias. A principal queixa era o preço da energia e um modelo de transmissão mais suscetível a interferências dado o avanço das transmissões de celulares, internet e, até mesmo, rede elétrica. Ligue o Corcel 2 perto de um rádio receptor AM e ouça o ruído na transmissão.

“Desde a chegada oficial da TV, exatamente em setembro de 1950, o rádio enfrenta previsões ‘futurísticas’ que, inclusive, detalhavam o fim do serviço desse instrumento de comunicação de massa. O tempo passou e o rádio continua absoluto e, certamente, não vai ser a total migração de AM, da amplitude modulada, para FM, a frequência modulada, que provocará o encerramento. O rádio não vai acabar. Toda mudança, independente da situação, dentro do contexto lógico, provoca alterações vantajosas como também não tão interessantes. E entre as vantagens dessa mudança estão melhorias na qualidade do serviço técnico, dentro de um raio de menor alcance, e redução de custos paras as emissoras. No entanto, é preciso, nesse cenário de transição de formato, como muitas emissoras já estão praticando, estabelecer novo tempo na produção de conteúdos, dentro do mundo de convergência midiática, que permitam a permanência e também o engajamento de mais ouvintes. E tudo isso sem que o rádio perca as características de instantaneidade e imediatismo da radiodifusão”, comenta o professor universitário e Diretor de Imprensa e Novas Mídias do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Álvaro Marinho.

Este ano de 2023 é o último em que AM’s locais podem ficar em operação no país. O prazo para o funcionamento vai até 31 de dezembro. E, a partir daí um outro ponto de vista. Com a obrigatoriedade do desligamento, estudiosos do rádio afirmam que o Brasil cria uma infinidade de regiões sem comunicação, ou os chamados “desertos de informações”. Há nós, cá em Mato Grosso, vale lembrar o Pantanal, onde existe uma dificuldade imensa para a chegada de novas tecnologias, em especial a internet, e nem mesmo a frequência modulada, ainda que com enorme potência de transmissão, consegue propagação. Ali, o AM se faz mais que necessário e a discussão, mesmo após seu ‘fim’, é que nessas regiões, como Pantanal e Amazônia, o modelo deve ser mantido.

Ainda debatendo sobre o fim do AM, mas sem entrar no mérito de seu indiscutível maior alcance, é preciso se falar sobre aquilo que é título deste artigo e questionar o chamado ‘mais do mesmo’. Não há de se citar aqui as rádios que migraram no interior, já que, segundo os pesquisadores do rádio, a segmentação de emissoras deve ser usada apenas em cidades com mais de 200 mil habitantes, e o fato faz com que essas pequenas rádios que migraram a se verem obrigadas a seguir o padrão popular.

Mas, tratemos do rádio cuiabano, pois, na capital, foram quatro migrantes, a antiga CBN, que agora transmite o sinal da rádio Vila Real, a Rádio Cultura trocou de faixa e continua com o mesmo nome, a Rádio Difusora Bom Jesus, que após quase 60 anos no ar, fez uma pequena alteração no nome ao migrar e agora opera no FM como Bom Jesus. E claro, a mais antiga emissora de rádio mato-grossense, A Voz do Oeste, que se tornou Conti FM e agora está, em caráter experimental, como FM O Dia, franquia que reproduz moldes de uma programação da capital do Estado do Rio de Janeiro. Na região metropolitana de Cuiabá, de Várzea Grande também migrou a antiga Rádio Industrial, que hoje retransmite a Rádio Massa FM.

Com a mudança de faixa, o número de rádios populares aumentou exorbitantemente, fazendo com que as mesmas músicas, o mesmo estilo de locução, as mesmas ideias de promoções, com nomes diferentes, dominassem o rádio cuiabano. O fato é tão verídico, que as pesquisas de opinião dos ouvintes mostram emissoras dando traço e sempre a mesma rádio em primeiro lugar, já que para ouvir o mesmo estilo, é melhor nem mudar o aparelho de estação.

“Eu acho que o maior problema é que o pessoal das AMs não se preparou para fazer uma mudança de linguagem. Muitas rádios, não só no mercado cuiabano, mas no Brasil, só transferiram a sua rádio AM para uma frequência modulada, não mudando muita coisa na sua linguagem, na sua maneira de conduzir, pensando que talvez toda a audiência que eles tinham no AM fosse migrar para o FM. É mais interessante que os comunicadores, os diretores de rádio hoje, façam uma reflexão mais profunda das tecnologias que estão à disposição para que possam ser feitos produtos especiais, específicos para nichos que não estão sendo atingidos. Sair do ‘mais do mesmo’ é uma reflexão que cada emissora tem que fazer e com seriedade. Misturar música com informação, não aquela informação pesada, mas uma informação leve. O rádio precisa ser leve. Os veículos de televisão já estão ocupando o papel da notícia pesada o tempo todo e é o papel deles. Modelos que dão certo em São Paulo, Minas, Paraná talvez não deem certo aqui. Sair do ‘mais do mesmo’ é uma é uma reflexão profunda e importante que cada emissora precisa fazer com todos da equipe. A gente só consegue entender e encontrar o melhor caminho reunindo todo mundo e fazendo reflexão”, é o pensamento de Yankee Ferreira, locutor publicitário e diretor de rádio.

O jornalista e produtor de rádio Jurandir Antônio, com vasta experiência no meio, aponta que a tecnologia não só melhorou o jeito de ouvir rádio, mas possibilitou uma facilidade para quem transmite música, notícias, prestação de serviço. “O Rádio foi o veículo de comunicação que mais ganhou com o avanço das novas tecnologias. A internet e o celular turbinaram as possibilidades do fazer rádio. O telefone celular aposentou os antigos equipamentos dos carros de reportagens, deu mobilidade aos repórteres e facilitou encontrar as fontes para entrevistas em qualquer lugar do mundo, simplificou a interação com o ouvinte, além de funcionar também com receptor das emissoras de rádio”

Com a rede mundial de computadores, qualquer emissora se tornou de alcance internacional, deixando de lado os imensos parques de transmissão para que a onda sonora atingisse um maior território.“A internet possibilitou alcance planetário as emissoras de rádio que estão na rede e diversificou as formar de “escutar” rádio. A internet possibilitou ainda o surgimento das web rádios, que apresentaram um crescimento expressivo nos últimos anos, oferecendo as pessoas a possibilidade de escolher uma programação mais próxima do seu gosto”, defende Jurandir.

A partir dessa análise quanto aos avanços alcançados, Jurandir pontua que o rádio precisa sair da mesmice e reaver o seu lugar, principalmente no combate às fake News. “Considero que a internet, o celular e a migração do rádio AM para o FM inauguraram uma nova era no rádio. Mas, as inovações tecnológicas não refletiram no resultado final da programação da maioria das emissoras. Está tudo muito parecido. Pouca criatividade e muita “mesmice”. No mar de fake News que domina a terra sem lei das mídias sociais, o rádio pode ser um contraponto no combate a desinformação. O rádio precisa recuperar o seu papel social como difusor de cultura, prestação de serviços, educação informação e cidadania”, conclui o jornalista.

Comemorar o crescimento e a adaptação constante do rádio, não quer dizer deixar de elencar pontos que precisam de atenção e melhoria. Afinal, não há quem esteja perfeito, mas sim em aperfeiçoamento, nem mesmo esse veículo tão incrível, por quem nutrimos um profundo amor e dedicamos grande parte de nossos dias.

Vinícius Antônio é jornalista, formado pela Universidade de Cuiabá (Unic), pós-graduando em Gestão de Empresas de Radiodifusão, pela Uninter.com. Atua na TRT FM, 104.3, rádio do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região, no departamento de rádio do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e é colaborador na agência de notícias Sapicuá Rádio News.



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